02 outubro 2009

Mercado de trabalho para os acima de 60 anos

É fato que a média de idade do brasileiro aumentou. As estatísticas comprovam. Mas a pergunta que não quer calar é outra: Será que as pessoas acima de 60 anos são reconhecidas na sociedade brasileira como fundamentais, devido a sua experiência? Esse e outros questionamentos são esclarecidos por Luiz Affonso Romano (foto), na Entrevista Vip dessa semana. Consultor Organizacional e de Pessoas há 39 anos, Professor do Curso Capacitação em Consultoria e Presidente do IBCO (Instituto Brasileiro dos Consultores de Organização), gestão 2006/2010, Luiz Affonso fala no bate-papo sobre as tendências do mercado para os profissionais acima de 60 anos e dá dicas de como se manter ativo nessa fase da vida onde se abrem e fecham novas portas.





Mais Bahia – Muito se fala que a expectativa de vida do brasileiro está aumentando, o que é muito bom. Mas de fato, a sociedade reconhece a importância de uma pessoa com mais idade interagindo com a sociedade, em plena atividade?

Luiz Affonso Romano – Não. Parentes, familiares, vizinhos permaneciam empregados por 30/35 anos, e depois se aposentavam e iam “gozar” a vida com os netos ou em excursões, viagens, por mais alguns breves anos de sobrevida. Hoje, é só olhar ao redor os experientes e capacitados retomando seus lugares. As fotos na mídia mostram que, principalmente, no pós crise aparecem mais e predominam em determinadas profissões. Não se dispensa impunemente a experiência. Não se olha com preconceito para a idade, ao contrário, a auto-realização no trabalho, a permanência, é marca de competência e vigor.

MB - Qual o percentual de brasileiros que mantêm sua vida profissional após os 60 anos?

LR - Os na jovialidade dos 60 anos e os que passaram estão próximos aos 20 milhões. Nos EUA, dos dois milhões que ingressam por ano na faixa dos 60, 50% continuam ativos, úteis e com renda.

MB - E a vida profissional dessas pessoas, como fica?

LR - No passado, poucos continuavam ativos; o desgaste de anos de repetitivas e monótonas atribuições incapacitava-os e reservava poucos anos de sobrevida. Mas, hoje, não há mais promessa de emprego tranquilo, de 25, 30 anos, seguido de boa aposentadoria para o resto de seus dias, que eram breves. A maioria não comemora 5 anos empregado, da carteira assinada, numa só empresa e, se previdente, investe constantemente na carreira, tal qual fazem nos bens materiais (carros, eletrodomésticos...).

MB - Você sabe de casos de profissionais que são demitidos com a alegação de já possuírem uma idade mais avançada?

LR - Sim, há ainda em inúmeras empresas o descarte por idade “avançada”. É um desperdício. E por isso, algumas empresas também têm morte prematura. Não cuidam do seu ativo, o capital intelectual, e nem do clima organizacional.

MB - Quando chega a aposentadoria, na maioria dos casos que você tem conhecimento, o profissional tenta permanecer na empresa onde trabalha ou sai em busca de um novo ramo profissional?

LR - Por acomodação, por imprevidência, muitos no passado, com o desligamento, percebiam-se perdidos, sem rumo, achavam-se marginalizados, nem sobrenome tinham, adotavam o da empresa. Não se preparavam para uma segunda carreira, para a conversão planejada de uma vida profissional, na maioria das vezes, monótona para outra que permitiria ter as rédeas da carreira nas mãos. Hoje, preparam-se para viver mais 20 anos de vida e trabalho prazerosos, úteis e gratificantes.

MB - Há alguma tendência desse público que vai em busca do novo em focar em alguma carreira específica?

LR - Uns procuram a franquia, outros o comércio, o turismo, alguns o agronegócio, outros tantos a consultoria, mas todos passam por um processo de aprendizado. Os que elegem a Consultoria procuram-nos para aprender a fundamentar, a compreender os tipos de intervenção, o marketing da consultoria e a vender experiência, conhecimentos e a competência já testada.

MB - E os que permanecem na empresa, continuam geralmente com a mesma função, ou há casos de serem sublocados?

LR - A tendência mundial não é mais o descarte, a demissão, por idade. Podem continuar, galgar uma outra função, integrar o conselho. Mas, não devemos levar a sério a designação de “consultores externos de uma só empresa”. A profissão é de aconselhamento e não de execução e requer independência, competência

MB - A gente sabe que inevitavelmente o corpo não responde mais a nossa vontade após uma certa idade. Como se deve driblar esses contratempos para continuar se mantendo ativo profissionalmente?

LR - Devemos derrubar alguns mitos, lembrando que a balzaquiana, ontem de 30, hoje tem mais de 50 anos. Assim, adotando uma dieta saudável, exercícios físicos, entretenimento, leitura, reflexão, boa gestão do tempo, fazer o que gosta, com quem gosta e, se possível, onde gosta. Estar em dia com a vida estende muito a qualidade. Convivo com consultores com 80 anos, antigos mestres, experientes, capacitados em saber, em plena atividade, sem falhas de memória e muito criativos. Eles sabem que a ociosidade é um risco.

MB - Se a escolha for trabalhar em casa, quais os cuidados que se deve tomar para tornar o ambiente o mais profissional possível?

LR - Escolher um horário para se dedicar ao trabalho e cumpri-lo com rigor, não permitindo que a rotina da casa invada o ambiente laboral e que ruídos caseiros, como choros, risos, animais e TVs, penetrem no seu escritório e nem sejam ouvidos pelo seu cliente. Você tem que estar mental e fisicamente no escritório.

MB - Há alguma contra-indicação para a execução do trabalho em casa?

LR - Nenhuma se for um profissional liberal equipado com computador, celular, acesso à internet. Eu recomendo que se faça as reuniões em local apropriado, fora do escritório. Mas é importante que quando chegar casa (sempre mais rápido que no passado, quando levava de 40 minutos a 2 horas no deslocamento), não volte a ele, escritório. O tempo, ganho e o pós- trabalho, é seu e da sua família.

MB - Quais conselhos você dá para quem já tem mais de 60 e ainda tem vontade de continuar trabalhando e vê a idade como uma experiência extra na função que exerce?

LR - Identifique as necessidades das organizações, estruture o que tem a oferecer, capacite-se a fazê-lo. Pergunte-se quem o conhece e como fazer para se tornar conhecido e procure um conselheiro, um consultor com senioridade. Sucesso ao reiniciar sua carreira numa atividade profícua e compensadora, tanto do ponto de vista material quanto, mais importante ainda, a sua realização pessoal e a qualidade de vida.

MB – Quais seus planos pessoais para a “maior idade”?

LR - Aperfeiçoar o aconselhamento profissional, aumentar a carga dos exercícios, claro que orientado por check-up anuais, escrever, estudar mais, aprender com as perguntas inteligentes dos alunos, ler, conhecer mais o meu país, conversar com os meus e amigos e divertir-me a valer. Enfim, manter-me ativo.

Um comentário:

  1. Luiz Affonso,

    Excelente entrevista que retrata de forma clara e objetiva a situação atual da senioridade. Para aqueles que se já estão nessa faixa ou se aproximam dela, é um excelente roteiro para a busca de um novo e mais prazeroso lugar ao sol.

    Um abraço.

    Umberto Reis

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